quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Deficiências de um elenco vencedor


Apático dentro de campo, o time do Corinthians chegou hoje em São Paulo com uma derrota histórica na bagagem. O 1 a 0 diante do Luverdense mostrou fragilidades técnicas e táticas do atual campeão do mundo que não vem de hoje. Na partida de ontem, o zagueiro Gil, o volante Ralf e o centroavante Paolo Guerrero são os únicos alvinegros isentos das críticas da torcida, que parece, com razão, ter perdido a paciência.

O sistema defensivo vem salvando o Corinthians de piores resultados, mas demonstra ocasionalmente algumas falhas individuais: Cássio não sai bem do gol, Edenílson erra em demasia na marcação, Paulo André não tem o tempo de bola correto e Fábio Santos com frequência toma bola nas costas. Gil é a exceção do setor, que mesmo assim, é um dos melhores do Brasil.

Não há muito o que falar dos volantes. Ralf é incontestável. Entretanto, a lacuna deixada por Paulinho ainda não foi bem preenchida. Guilherme sobe raramente ao ataque, Ibson é pouco contundente e Jocinei, recém-contratado, não tem oportunidade de jogar.

A linha 3, fundamental no esquema de Tite, é a que dá mais dor de cabeça ao torcedor. Romarinho, Sheik, Pato e Danilo estão muito abaixo do que se espera. Romarinho é fraco nos fundamentos básicos do futebol e vive de um gol épico feito há mais de 1 ano. Sheik, polêmicas a parte, tem muita vontade e pouco futebol. Pato, que veio por R$ 40 milhões, está visivelmente acomodado, e Danilo apresenta extrema irregularidade na temporada. Renato Augusto é o único que desempenha bom futebol regularmente.

Na posição de centroavante, não há nada a ser contestado. Paolo Guerrero faz o possível. Corre, volta para marcar, vem até a intermediária fazer o pivô e muitas vezes serve com bons passes os companheiros. Pato, quando atua improvisado na função, também sofre.

Tite tem parcela de culpa. O treinador aparenta ter perdido o controle do grupo e seu 4-2-3-1 está  manjado para os adversários. É um dos melhores técnicos do país, mas precisa mudar - emocionalmente ou taticamente - seu elenco para obter melhores desempenhos, já que os resultados não são tão ruins como o futebol apresentado pelo timão.

O coletivo, tão elogiado até hoje, é o que vem emperrando o Corinthians, que não tem um craque chamando a responsabilidade. A ideia de que "quando a tática não funciona, a individualidade deve aparecer" vem à tona no timão, que vem se mostrando incapaz de sair um pouco do padrão tático atual.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

CB Entrevista - Jorge Vinicius

A entrevista de número 9 do blog traz simplesmente o mais jovem narrador do mundo da Copa de 1994. JORGE VINICIUS nasceu na cidade de Penápolis, interior paulista, em 1972. Aos 16 anos, Jorge já era repórter da penapolitana Rádio Difusora. Estudou jornalismo na PUCCAMP e hoje faz parte da equipe dos canais SPORTV. Jorge Vinicius gentilmente respondeu as questões que você confere agora.

CB - Você sempre quis ser narrador esportivo?
JV - Sempre tive o sonho de viver mergulhado no mundo do futebol. Como não consegui ser jogador profissional, parti para a comunicação. E acertei. Tenho orgulho de ser narrador. Trabalho me divertindo com responsabilidade.


CB - Como começou sua carreira?
JV - Comecei no interior. Na minha cidade natal: Penápolis. Foi em 1989 na Radio Difusora como repórter. Apresentei um programa também direcionado aos estudantes. Tinha 16 anos de idade. No ano seguinte já estava cursando Jornalismo na Puccamp em Campinas, cidade que me acolheu super bem. Iniciei como repórter na Rádio Brasil, era setorista da Ponte Preta. No ano seguinte já estava narrando nas rádios Planalto de Paulínia e Cultura/CBN Campinas.


CB - Com 21 anos você narrou a Copa de 1994 com o status de narrador mais jovem daquele torneio. Pode nos descrever um pouco daquele período?
JV - As coisas aconteceram muito rápidas pra mim. Graças ao saudoso Pedro Luiz Paoliello, na época diretor de esportes da Rádio Gazeta de São Paulo. Pedro Luiz me contratou em 1993 como narrador. No mesmo ano já me escalou para as Eliminatórias da Copa e para a Libertadores. Foram minhas primeiras viagens internacionais na vida. O rádio me proporcionou conhecer o Brasil e muitos países. Em 1994 na Copa dos EUA eu fiquei 48 dias viajando. Conheci o Canadá em um amistoso narrado da Seleção e de lá embarquei para os Estados Unidos. Na minha primeira participação com o microfone da Gazeta na Copa é que caiu a ficha. Pedro Luiz saudando dos estúdios a nossa equipe e apresentando um por um. Na minha vez, me emocionei. O moço de Penápolis (como dizia meu outro grande ídolo e amigo Fiori Gigliotti) estava na primeira Copa do Mundo. Mais tarde fui informado que era o mais novo narrador do mundo naquela Copa. Depois fiz mais outras duas Copas, pela Rádio Record, mas nenhuma teve aquele sentimento. Afinal, aquela era a primeira. Fui as Copas de 1998 e 2006. França e Alemanha.

                                        Milton Neves e Jorge Vinicius, na Copa de 1994

CB - Você se inspira em algum narrador?
JV - Me inspiro até hoje em vários narradores. O Brasil é o maior no quesito de excelentes narradores. Me espelhei em Osmar Santos, Fiori Gigliotti, Luis Roberto, Cledi Oliveira, Oscar Ulisses e Éder Luiz. Isso no rádio. Faz pouco mais de três anos que narro na TV. Na telinha os professores e referenciais são: Jota Junior, Milton Leite, Luciano do Valle, Galvão Bueno, Luis Roberto, Cleber Machado, Paulo Andrade e Deva Pascovichi.


CB -
Qual foi o melhor jogo que você já narrou?

JV - O melhor sem duvida foi entre Santos e Flamengo pelo Brasileirão de 2011. Foi 5x4 para o Flamengo. Partida sensacional de Neymar e Ronaldinho Gaúcho. E um gol de Neymar que ficou marcado como o gol mais bonito que já narrei.


CB - Por que o interior paulista perdeu um pouco de sua força no futebol?
JV - Por culpa dos dirigentes que comandam o futebol. Presidentes de Federação... a FPF abandonou o interior faz anos.


CB - Qual foi o melhor jogador que você viu em campo?
JV - Que eu vi jogar foi Maradona. O que eu mais admirei foi Sócrates.


CB - Brasileirão: quem é o principal favorito ao título?
JV - Não existe um time favorito. O Brasileirão esse ano está muito equilibrado. Tem 10 times com grandes chances. Pra mim, pode ser um ano de um time mineiro ou gaúcho.


CB -
Finalizando: ser narrador é...

JV - Viver na essência a melhor profissão do mundo. É ter estórias e formar amigos
.

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Para conhecer um pouco mais da vida do narrador, acesse www.twitter.com/JorgeViniciusSP

A dupla Vitinho-Seedorf


Um nem era nascido quando o outro começou a jogar futebol profissionalmente. Provavelmente um não se lembre da Copa de 1998, onde o outro, carregando a camisa 10, levou a Holanda ao 4° lugar do torneio. Com certeza um já jogou videogame com o outro em seu time e não esperava tê-lo, hoje, ao seu lado. Quis o destino que Vitinho, o um, e Seedorf, o outro, se encontrassem. Agora, os dois são os protagonistas do atual campeão carioca e líder do Brasileirão.

Vitinho e Seedorf se completam. O primeiro, de 19 anos, faz jus ao escudo que veste: bota fogo no jogo usando sua velocidade e parte pra cima dos adversários sem medo do erro. Até extrapola os limites algumas vezes e acaba não soltando a bola para seus companheiros. E daí? O tempo, que Seedorf tem, vai ensinar. O segundo, de 37, veio da Europa e comanda o Botafogo com sua maestria nos passes e nas finalizações. Não tem mais a velocidade ou o drible rápido de um garoto. E daí? Vitinho faz essa parte.

Vitinho mostra a Seedorf um pouco - do que ainda resta - do legítimo futebol brasileiro. Já Seedorf trata Vitinho como um irmão mais novo e mostra ao atacante um pouco de sua experiência aliada à categoria de um veterano. Juntos, possuem 9 gols - quase metade do total botafoguense - e 8 assistências. Rafael Marques e Lodeiro, que completam o sistema ofensivo do fogão, merecem ser lembrados.

Oswaldo de Oliveira tem mérito no sucesso da parceria. Com mais idade que os dois juntos, o treinador sabe como e o que fazer para que um não acabe atrapalhando o outro. Além disto, consegue deixar o Botafogo, mesmo recebendo pouco, jogando muito. Com 26 pontos, o clube do Rio é um dos favoritos ao título, e só não tem sete pontos de vantagem do Cruzeiro porque tomou, em três jogos, três gols nos acréscimos. O clube de Minas tem 25 pontos e é o 2° colocado.

Com praticamente a mesma altura e oriundos de países diferentes, Vitinho e Seedorf podem reeditar uma história que o botafoguense conhece muito bem. Em 1995, o Botafogo foi campeão brasileiro com a dupla Túlio-Donizete marcando 29 gols e dando show nos gramados. Vitinho tem sorte ao ver Seedorf de um lado. E Seedorf tem sorte ao ver Vitinho do outro.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

A crise do futebol brasileiro


É fato que o Brasil, apesar da vitória contra a poderosa Espanha pela Copa das Confederações, não é há muito tempo o país do futebol. As deficiências táticas e principalmente técnicas do nosso futebol estão escancaradas neste fraco Brasileirão.

De uns anos para cá, o futebol brasileiro perdeu muita qualidade. Agora, são os sistemas defensivos, chutões e lançamentos para a área que ditam o ritmo das partidas. Fundamentos básicos como o passe e a finalização hoje são vistos como elementos secundários - ou terciários - nos gramados. Basta ver com atenção alguns jogos do Campeonato Brasileiro para notar. São inúmeros cruzamentos mal feitos, chutões sem direção e muita, mas muita marcação.

Talvez por este motivo os considerados "velhinhos" estão dando show. Alex, do Coritiba, é até agora o melhor jogador do Brasileiro. O injustiçado armador tem 6 gols e 3 assistências em 10 jogos feitos no torneio. Seedorf já mostrou a que veio no ano passado, mas continua sendo o craque do Botafogo: são 3 gols e 4 assistências em 9 jogos do meia holandês. Zé Roberto é o terceiro exemplo: o Bola de Prata do ano passado tem 39 anos e continua liderando o forte Grêmio. Para completar a lista, temos Juninho Pernambucano. O ídolo vascaíno voltou, e tem nos 2 jogos que fez o mesmo número de gols e assistências.

As características em comum destes jogadores são muitas, mas duas delas são interessantes: os fundamentos básicos e a experiência na Europa. Os quatro passam a bola com maestria, se movimentam com inteligência, possuem bom senso de posicionamento e finalizam muito bem em qualquer distância, algo completamente escasso no futebol brasileiro atual. A passagem pelo velho continente talvez seja a causa: é lá que o jogador - brasileiro ou não - aprende de verdade alguns requisitos do futebol.

Enquanto lá fora ensina-se a essência do futebol, no Brasil se prioriza o físico, a bola alta e a marcação excessiva. Talvez também por este motivo nosso país é grande exportador de defensores - exceção feita ao garoto Neymar - há alguns anos. Tudo isso sem falar na péssima média de público presente nos estádios. É preciso mudar, antes que seja tarde demais.