Uma entrevista diferente. Nem narrador, nem comentarista. Hoje nossa conversa é com um preparador físico e estudioso do futebol. MÁRCIO FARIA CORRÊA é pós-graduado em Fundamentos da Preparação Física Moderna, já trabalhou em diversos clubes, como Internacional, Grêmio, Cerro Porteño, Criciúma e hoje faz parte da comissão técnica do América-MG. Experiente e muito bem avaliado por seus atletas, Márcio é professor de Educação Física e ministra palestras em diversas universidades, além de participar de eventos como o Footecon, o fórum internacional do futebol.
CB: Você tem passagens por diversos clubes do Brasil e da Arábia Saudita.
Qual a principal diferença na preparação física entre os países?
MFC: Não somente na Arábia,
mas na Europa e América Latina também, quando tive passagens pelo “Belenenses”
de Portugal e o “Cerro Porteño” do Paraguai. Penso que a preparação física já a
algum tempo tomou outro rumo. Na verdade precisamos preparar atletas, isso quer
dizer, fisicamente, tecnicamente, taticamente, psicologicamente, socialmente,
nutricionalmente, farmacologicamente, etc... Hoje não penso mais em “preparação
física” e acho que quem se limitar a isso estará ficando para trás dentro do
contexto do esporte moderno. Devemos pensar o ser humano como um todo e no caso
do esporte, qualificá-lo através dos meios citados para a excelência
competitiva.
CB: Você partilha da opinião de que é preciso uma renovação no calendário brasileiro?
MFC: Pensando de acordo com a fisiologia
humana, creio que sim. Deveria haver uma pequena adequação no número de jogos
das competições atuais. Talvez uma regionalização ou uma divisão em grupos. Poderíamos
imitar a Europa nesse sentido, pois lá se consegue um tempo um pouco maior no
período inicial e isso, se bem conduzido, gera uma melhor qualificação dos
atletas. Mas se pensarmos através da óptica mercadológica, aspectos da
publicidade e marketing, acho que as coisas estão melhores conduzidas do que no
passado. Hoje o futebol gera um lucro muito maior que no passado, e isso é
repassado a clubes, federações e acaba refletindo positivamente nos salários de
profissionais do futebol
CB: Quando se deve poupar um jogador?
MFC: Isso é um dos temas bastante abordado
nos dias atuais e de suma importância para a continuidade de todos os atletas
em alto desempenho e com risco mínimo de lesões durante uma temporada.
Atualmente muitos clubes possuem laboratórios portáteis, onde facilmente,
através da medição de algumas enzimas, o departamento de fisiologia pode
focalizar o nível de desgaste ou falta de recuperação de cada atleta. Esse
avanço foi positivo, pois anteriormente a subjetividade era a única maneira de
interromper ou diminuir as cargas de trabalho ou mesmo o afastamento de certo jogador
de alguma atividade competitiva por determinado tempo.
CB: O gramado é uma das causas das lesões de jogadores. Existe algum tipo
de preparação especial na hipótese de jogo em um gramado ruim?
MFC: Claro que
gramados ruins dificultam o trabalho, principalmente quando temos jogadores com
qualificação técnica elevada. Hoje a maioria dos gramados já apresenta uma
qualidade boa, mas quando sabemos previamente que o gramado do adversário faz a
diferença negativa em qualidade ou mesmo tamanho, podemos sim simular alguma
dessas questões durante a semana de treinamento.
CB: Você se espelha em algum preparador físico?
MFC: Não, em ninguém.
Trago para o meu trabalho muitos detalhes de outras áreas
acadêmicas, como por exemplo: administração, psicologia, sociologia e os
fundamentos que o curso e as pós-graduações nas áreas da educação física me
proporcionaram (metodologia do ensino, fisiologia do exercício, pedagogia, didática,
etc.). Leio muito, questiono muito e busco a troca constante de ideias com
pessoas que possam acrescentar dentro do meu conhecimento. Procuro não perder
tempo comentando coisas do futebol que não agregam qualidade ao meu
conhecimento. E tem mais, não envolvo religião com esporte e não confio em sorte
ou azar.
CB: Você já trabalhou com muitos jogadores conhecidos. Há algum que gostaria de citar como exemplo de profissional?
MFC: Os
grandes jogadores com os quais trabalhei eu nunca esqueci e provavelmente nem
eles se esquecerão de mim. Jogadores modernos chegam ao topo em suas carreiras
pelo profissionalismo que exercem. Os nomes que não lembro, deve ser porque
talvez não tenham sido profissionais o bastante para se fazer lembrados.
CB: Atualmente você é preparador físico do América Mineiro. Pode nos contar um pouco da estrutura do clube?
MFC: Estou há
pouco tempo aqui em
Belo Horizonte e começando a me inteirar da realidade do
América. Esse tipo de assunto acredito que seria muito difícil comentar ainda,
pois eu poderia fazer alguma injustiça com algo que ainda não conheço dentro do
clube.
CB: Qual foi o clube que te deu mais prazer em trabalhar até hoje?
MFC: Todos os clubes sempre nos trazem
itens positivos, uns mais e outros menos. Como em toda a relação de trabalho,
penso que deve existir satisfação e valorização das duas partes. Cumpri grandes
objetivos em vários clubes, meu trabalho foi elevado na mídia e pelos
torcedores através da instituição. Obtive acessos a divisões em alguns clubes
em outros consegui títulos e sempre cito que o mérito pertence a todos os que
participaram do contexto: comissão técnica, dirigentes, pessoal de apoio e
jogadores. A estrutura de trabalho e a organização em todos os setores
continua sendo um dos fatores fundamentais
para que tudo dê certo. Sem esse item, somente se eu acreditasse em milagres.
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Márcio tem um site próprio onde há informações sobre tudo que envolve a preparação física e o futebol. Você pode conferir clicando no link http://marciofariacorrea.com
Obrigado pelo espaço.
ResponderExcluirMarcio : www.marciofariacorrea.com